carlos lira era escrituário há anos, morava próximo a ponta da terra, numa casa pequena, de onde saía toda manhã e tomava a condução até o escritório e para onde voltava cerca de dez horas depois, para encontrar o jantar na mesa e o cheiro de café incensando a casa. dava um beijo na mulher, lucinha, e abraçava suas crianças: antônia, carla e sandra.
carlos, pessoa decentíssima, se considerava um homem feliz. prezava os bons costumes, criando sua família num lar católico, caminhava com sua família todo domingo às seis e meia da manhã rumo a igreja de são pedro, onde assistia ao sermão do padre josé eufrésio, ajoelhava no genuflexório e comungava. fazia questão que sua mulher o acompanhasse, bem como antônia, a filha mais velha, que já realizara a primeira comunhão.
se havia um defeito a se apontar em homem tão destro eram as surras que dava em sua família. seguia sempre o livro dos provérbios, e todas as vezes que uma de suas filhas o desobedecia, recitava versículos do livro enquanto buscava a vara de madeira que lhe servia de auxílio ao castigo. o primeiro golpe sempre era o pior, o mais forte, e após os gritos e choros de dor dizia: “minha filha querida, isso dói tanto em mim quanto em ti, mas a escritura diz: ‘Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno’” e enquanto seguia com os golpes, sempre dez, fazia com que suas outras filhas, as que não estavam sendo castigadas, assistissem ao ritual e cuidassem dos ferimentos após o término. sua esposa nunca interferia. preferia se retirar em seu quarto, onde poderia abafar os gritos com os travesseiros.
um dia, ao descer do ônibus na parada mais próxima de sua casa, depois de uma exaustiva jornada laboral, carlos foi alvejado por três tiros. ao cair sangrando na esquina de sua rua, ainda vivo, carlos viu seu vizinho e amigo, euclides fernandes, com a arma em punho. lhe direcionava a fala “agora você nunca mais tocará em minhas filhas.”
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caralho! texto curto e foda!
FH
como disse nenéu, curto e foda. a última frase é uma bela lambada na nossa cara. parabéns! e estou feliz pelo seu retorno!